Por uma política que seja imanente à vida
Liberem a ação política de toda
forma de paranoia unitária e totalizante.
FOUCAULT (Introdução à vida não-fascista)
Tudo é político! Mas se tudo é político, o que é exatamente a política? Descortinemos o mundo dessa macropolítica paranoica e neurótica que estamos acostumados, rachemos o estado e o fascismo em nós para abrir frestas para uma política inerente à vida começar a circular. Micropolíticas possíveis estão ao nosso redor diariamente nos mais diversos fazeres e modos de criação que podemos compor a vida. Não se trata de negar a existência da macropolítica, tudo isso que já está aí posto, mas busquemos sair do círculo da paranoia e usemos o que está posto enquanto estratégia para promover micropolíticas em possíveis de serem realizados e criados.
O que aconteceria se todos nós não atendêssemos à demanda das tecnomídias? O que aconteceria? É difícil, parece impossível, mas quem poderá dizer que não teríamos essa possibilidade? Isso é para dizer que há cumplicidade em nós, sempre há alguma cumplicidade em nós com os poderes que parecem ser insuperáveis. Sabe o motorista do táxi que vem com aquela conversa de que o problema do brasileiro, o problema do Brasil, o seu saudosismo pela ditadura militar, … tudo isso só acontece se você aceita a demanda da qual ele espera que você entre no mesmo discurso, e quantos não entram nesses discursos mesmo não concordando? Os exemplos diante do esgotamento político poderiam ser inúmeros.
Não esperemos por uma revolução, acreditemos em microrrevoluções que disparem contágios. Quem sabe uma ruptura aqui, uma invenção ali, os incômodos explodindo pelo bairro, quem sabe um efeito em cadeia nos leve a algo maior. Para onde nos levará os devires? Revolução só se for por contágio, com todos juntos e todos separados. O poder fica meio retardado quando não encontra identidades. Não sejamos tolos em achar que uma classe mais esclarecida fará revolução – mais do mesmo!
Temos um árduo trabalho pela frente se quisermos parar de reproduzir o que temos até então reproduzidos em larga escala desde 1789, um trabalho não só contra o estado e os poderes mais visíveis, mas, principalmente, um trabalho sobre nós mesmos. Nunca é demais repetir: o fascismo em nós, o estado subjetivo em nós e o amor ao poder. Comecemos ao menos em flertar com essa linha: revolucionar o cotidiano, cotidianizar a revolução.
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Resistir, Resistir, Resistir…
Superando o dualismo paranoico de política iremos perceber que o capitalismo é planetário. Não acreditamos em sistemas, mas em possíveis que podemos enquanto criadores capazes de liberar fluxos e evitar os lugares da captura. Nesse sentido, resistir ao capitalismo é a militância fundamental de uma política imanente à vida. Liberar os fluxos de desejo para que outras vidas possam passar. Mas como falar em liberar fluxos de desejo para que outras vidas possíveis possam surgir se é exatamente disso que o capitalismo se alimenta? – Um próximo texto!