Então veio Jesus e disse: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que fazeres qualquer coisa enquanto pensa nela. Não comerás, não exercitarás, não dormirás e não lerás. Os livros foram chutados, o supino dificultado e o inferno instaurado na vigília pastosa dos dias. Os livros… – ah, os livros… meu deus, de que servem os livros, de que servem as bibliotecas inteiras com populações inteiras de fungos e ácaros diante do teu corpo? A carne sempre vence o espírito eu digo e os intelectuais enaltecem um pouco a morte de Nietzsche mas acho que ele começou a ruir quando viu que seu Übermensch não passava de um inseto sendo esmagado pelos delicados pés de Lou Salomé e ahhh… ao inferno, ao inferno com os livros. Nietzsche, Deleuze, Herman Hesse e até o fudido do Bukowski todos eles estão mortos e quanta gente morta ao meu redor eu penso enquanto você aparece sorrindo como o gato listrado de Alice me dizendo que vê um outro morto sendo velado junto às folhas mortas de toda essa outra gente morta e eu penso se seria eu e você apunhala ainda mais com esse teu sorriso do Além dizendo É você mesmo, idiota! e eu digo que é verdade, é sim, é a vida transbordante que agora vai lentamente se esvaindo de mim com a tua partida assim como o oxigênio de uma baleia dessas que vem a encalhar na beira da praia e vai morrendo em dois ou três ou onze dias depois e eu até chego a sentir um leve ânimo pensando o quanto a vida é cruel demais com homens, baleias e sapos e todas as criaturas vivas e… e não é apenas comigo eu penso mas agora tudo indica que morrerei aqui mesmo nesse sofá sudorento que ainda conserva – eu acho – os restos também mortos de tua pele e as notas agora venenosas do que antes era o teu perfume que me enchia de esperança no mundo mas meu bem, tudo isso não é nada importante, todas as teorias e toda força pensante que há no mundo, acredite, nada pode diante da beleza e bastariam quatro ou cinco ou sete traços teus ou apenas um único olhar aveludado desses teus bem maldosos para me encher de ternura e me fazer um pobre cão aos teus mandos e eu até sei como pensar do ponto de vista da psicologia ou da psiquiatria ou algum outro saber saudável desses de homens doutos mas eu acho tudo isso um porre enquanto vou morrendo lentamente por estes dias mas me perguntado sempre, e sempre, e sempre… mas como algo que é tão belo pode causar tanta dor?
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Sobre o autor
Adriel Dutra
Antes de tudo é formado pelos amores e desamores que vive, pelos livros, músicas e arte marginais, mas também psicólogo, filósofo, escritor de trechos errantes. Tem como hobbie ficar observando detalhes que ninguém costuma ver e fotografar coisas que ninguém quer ver.