Interessa o desejo, não as bandeiras partidárias
O desejo! E é aqui que interessa mais. A política não é uma atividade isolada que exercemos em alguns momentos, querendo ou não querendo somos políticos em todos os momentos da nossa existência. Deleuze diz que a política vem antes do ser. Partindo daqui para a ordem social percebemos que estamos longe de nos compreendermos como políticos, o que predomina como política é a paranoia… dos partidos, dos governantes, dos posicionamentos de esquerda e direita, do capitalismo ou do socialismo.
E algo mais interessa. Não se trata de abraçar uma ou outra bandeira, nem direita nem esquerda, o único posicionamento é o da liberação dos fluxos de desejo. Tudo se resume em um estar do lado da vida, da criação de sensibilidades outras, de outros modos de pensar e existir.
Não vamos ficar no raso da discussão paranoica de política que satura os espaços do nosso cotidiano infectando a vida com medo e ódio. Não se trata de descobrir quem está com a verdade sobre a corrupção, apontar os valores que foram roubados dos cofres públicos e nem fazer coro aos coronéis da mídia que apontam bodes expiatórios enquanto as próprias instituições ficam incólumes. Tudo isso é de interesse dos próprios acumuladores de capital (e de morte!) para encerrar a vida na impotência, garantir seus interesses de conservação, manter as pessoas em um modo político passivo e afastá-las de uma dimensão política mais potente. Não se trata de negar a corrupção, mas recusar atender a essa demanda usada como manobra de distração das massas. A política como business apocalíptico é excelente para legitimar maiores barbaridades contra as minorias.
Os muros físicos foram destruídos, não se trata mais de tornar visíveis os símbolos e as cores de um sistema, cantar o hino americano ou o soviético, dizer-se capitalista ou socialista. Mais ou menos, algumas coisas mudaram. Nos achamos “pós-modernos” para dizer que caricaturas políticas antigas foram superadas, mas olhemos ao redor e iremos nos ver inundados de discursos e opiniões políticas que encontram cada um o seu posicionamento, todos juntos carregando a bandeira paranoica da captura.
Hoje, mais do que nunca, as pessoas estão perdidas em um mar de informação. Mais do que nunca a política é o esgoto despejado diariamente pelas mídias em nossas salas e quartos antes de dormir, doses diárias de paranoia que irão ser engolidas e vomitadas pelos cidadãos com cabeça-de-jornal no dia seguinte, e assim se preserva, independente do lado, os interesses de uma histórica elite, favorecendo ainda mais a acumulação e a manutenção daqueles que sempre estiveram no poder enquanto o povo discute, a cada quatro anos, quem serão os próximos personagens para se culpar e expiar os erros do mundo… desde 1789!
Jogada brilhante! Foi assim que a burguesia deu o golpe em 1789 através daquilo que marcamos na história como Revolução Francesa, e desde então se mantém e se fortalece cada vez mais através dessa maneira paranoica de se fazer política, fazendo nos acreditar que tudo é uma questão de escolha certa de quem iremos colocar para gerir as nossas vidas. Não foi uma mera classe que se manteve, foram os ideais de uma classe, seu modo de ser e desejar, de dizer e de pensar, foi uma perspectiva de mundo e vida paulatinamente inculcada no corpo e no pensamento, uma subjetividade burguesa incrustada e funcionando em cada fibra do nosso ser, inclusive nos operários e revolucionários clássicos que nunca foram longe o suficiente em perceber o próprio desejo fascista de desejar um outro modo de vida universal. Impactante e avassalador pensamento reichiano: as massas não foram enganadas, elas desejaram o fascismo!