Faz pouco tempo que estou nessa ilha chamada Irlanda, mais exatamente em Dublin – menos de dois meses. Faço parte desse mar de gente que não pertence a esse lugar – e isso sempre foi um lugar-comum para mim. Você poderia supor, então, que eu me sinto à vontade aqui. Mas não é o que acontece.
De fato, nunca vi a “Modernidade Líquida” de Bauman tão personificada. Conhece-se as pessoas muito rápido – e elas também partem muito rápido. A impressão que se tem realmente é que quase ninguém em Dublin é de Dublin – mesmo nos que falam inglês é possível notar o sotaque russo, alemão, italiano.
E isso poderia ser bom. Afinal, não é preciso lidar com as pessoas a longo prazo – se você se interessar por alguém e a pessoa não corresponder, há centenas de milhares de outras. O mesmo se você não se der bem com alguém: a pessoa certamente irá partir logo – e parte. Mas, ao mesmo tempo, não dá para construir algo – o que é especialmente válido aqui para a amizade, o que aprendi, com o tempo, ser a única forma de amor necessária (no sentido de durável; em oposição à contingência).
Cheguei a pensar: se, de todas essas pessoas, a única que irá permanecer comigo serei eu mesma (óbvio mas nem tanto), por que eu não invisto nesse único relacionamento que irá durar?
E, com esse pensamento, eu poderia me sentir plena, mas sinto um imenso vazio.
Porque muitas vezes, na vida, ouvi o chavão “ninguém é uma ilha”. Mas, se nossas relações são feitas dessa água que circunda a ilha, o que somos então?!