Literatura

Belezas invisíveis

Adriel Dutra
Escrito por Adriel Dutra

A vida é tão desconhecida e mágica,
dorme às vezes do seu lado…calada

Cazuza

Vejo um pardal dando pulinhos na calçada. Manhã nublada de um domingo. Eu poderia ter passado horas presenciando aquela cena – sem saber por quê -, mas a beleza só dura a eternidade de um instante. Sabe aqueles instantes que gostaríamos que nunca acabassem? Pois eles estão prenhes de beleza. A vida que vale a pena ser vivida, o eterno retorno de Nietzsche, passam por aqui – nesses instantes capazes de nos suspender do nosso tédio habitual.

O mundo está repleto de coisas que nunca reparamos, situações comuns podem nos tocar profundamente. Andamos pelo mundo, mundo invisível, como que cegos, não porque não enxergamos, mas porque costumamos se ocupar com aquilo que gostaríamos de enxergar. A beleza não tem porquês, ela entra sem pedir licença e quando menos percebemos estamos acontecendo em plena potência.

A beleza produz rachaduras na dureza do mundo que construímos, capturado e encaixotado sob uma linguagem estéril de intensidades. A beleza faz isso, pequenos acontecimentos que por vezes causam deliciosos incômodos quando cultivamos nossa sensibilidade. Sensibilidade que podemos entender como abertura para o estético visando aumentar a potência de existir em nós, fujamos daquele significado engavetado que comumente se emprega quando se diz que alguém é uma “pessoa sensível”.

Ao invés de procurar estruturar o seu ego, sinta. Não faça como Freud que tinha medo das intensidades e acusava o inconsciente de parricida e incestuoso, um pequeno sopro de Afrodite pode silenciar o ego tagarelante e agitar as forças do corpo. Corpo – é aí que tudo se decide.

Um pouco de encantamento na realidade, se não sufocamos.

Sobre o autor

Adriel Dutra

Adriel Dutra

Antes de tudo é formado pelos amores e desamores que vive, pelos livros, músicas e arte marginais, mas também psicólogo, filósofo, escritor de trechos errantes. Tem como hobbie ficar observando detalhes que ninguém costuma ver e fotografar coisas que ninguém quer ver.