Também não queira uma casinha, com os custos
que você terá de agüentar
ganhando a vida enquanto a vida se perde, e o susto
da morte um dia vem te agarrar.
Lute, menino, sua luta de nada,
vá à luta e seja homem.
Não seja um bom menino, um bom moço,
sendo tão bom quanto você pode ser
e concordando com todas as matreiras, manhosas
verdades que os fingidos encenam
para se protegerem e à sua
ávida, glutona, gulosa
covardia de escolados grosseiros.
Não corresponda à queridinha que acaba
por custar sua macheza e te fazendo pagar.
Nem à velha mamãezona que orgulhosamente se gaba
de que você vai ser um dos que vão chegar.
Não conquiste opiniões valiosas, abalizadas
opiniões valendo obrigações do Tesouro,
de homens de todo tipo; não fique devendo nada
ao rebanho engordado para o matadouro.
Não queira ter meninos bons, bonitinhos,
os quais você terá de educar
para ganhar a vida; nem meninas gostosas, uns docinhos,
que vão achar muito difícil trepar.
Também não queira uma casinha, com os custos
que você terá de aguentar
ganhando a vida enquanto a vida se perde, e o susto
da morte um dia vem te agarrar.
Não se deixe sugar pelo sup-superior,
não engula a isca da cultura a chamar,
não beba, não vire um cervejado senhor,
aprenda, isto sim, a discriminar.
Mantenha-se inteiro e lute atento,
empurrando daqui ou empurrando de lá,
e tendo à noite o consolador sentimento
de que um pouco de ar você fez entrar.
No chiqueiro do dinheiro esse ar renovado
você pôs pelo buraco que na prisão pôde abrir,
fazendo o pouco que podia, empenhado
em que o Cristo ressuscite como forma de agir.
Imagem: Solovki, Mar Branco, Russia (1992)