Henry Miller é sempre muito potente, é um dos meus autores prediletos. É raro avançar 3 ou 5 páginas sem levar algum golpe em alguns de seus parágrafos, e não são parágrafos curtos. O livro “Pesadelo Refrigerado” foi censurado durante muito tempo. Nessa obra o autor narra as barbáries da América, da dizimação dos índios à formação massificante do consumo, o brilho e as pompas da tecnologia em contraste com a queda do humano.
Uma obra extremamente atual apesar de escrita há mais de 60 anos, capaz de mostrar a impotência e a debilidade da vitalidade frente ao avanço sedutor da civilização e suas glórias. É possível perceber uma profundidade arqueológica (lembremos de Foucault), pois mostra como foi emergindo o modelo de vida americano. Por assim dizer, não deixa, como todas obras de Henry Miller, de nos colocar em acontecimento durante a trama, pois o modelo de vida americano (o consumo, os valores, os grandes centros, o culto ao automóvel, etc.) atravessa também as nossas vidas, pois não deixa de ser também, uma narrativa que serve ao mundo globalizado em geral.
Leitura arrasadora, vale a pena.
Vamos parar de nos matar. A terra não é um antro, nem uma prisão. A terra é um paraíso, o único que jamais conheceremos. Temos de entender isso no momento em que abrimos os olhos. Não precisamos fazer dela um paraíso — ela é um paraíso. Só temos de nos capacitar para habitar nele. O homem com uma arma, o homem com o assassinato no coração, não é capaz de reconhecer o paraíso mesmo quando lhe é mostrado.
Henry Miller, Pesadelo Refrigerado