A crítica consiste em desentocar o pensamento e em ensaiar a mudança; mostrar que as coisas não são tão evidentes quanto se crê, fazer de forma que isso que se aceita como vigente em si não o seja mais em si. Fazer a crítica é tornar difíceis os gestos fáceis demais. Nessas condições, a crítica —e a crítica radical— é absolutamente indispensável para qualquer transformação. – M. FOUCAULT, É importante pensar?
Não basta apenas cumprir o currículo acadêmico. A universidade é uma instituição, e como toda instituição se serve de estratégias de legitimação e dominação. Será mesmo que você pensa ou é pensado? Será mesmo que você fala ou é falado? O quanto do seu pensamento é aprisionamento e o quanto é libertador?
Faz-se necessário colocar o próprio pensamento, a própria prática sob críticas, sob fogo, sob contrapontos, sob tantos outros ângulos possíveis – e não fazer juramento! E nunca, mas nunca mesmo, deixar de se perguntar: para que e para quem serve meu conhecimento?
Aqueles que submetem a si mesmos a uma crítica estariam mais bem preparados para resistir às estratégias dos aparelhos de dominação que fazem do próprio pensamento um objeto maleável para modelar o intelectual de acordo com as demandas de um mercado econômico e social.
A própria crítica teria que estar fora da crítica já capturada como estratégia do pensamento dominado – pois este pensamento já tem pré-definido as direções que se podem ir. É necessário buscar novos ares no Fora, quem sabe o Fora de Blanchot. É necessária uma crítica capaz de abrir imprevisíveis. Deformar é também a arte de encontrar outras formas.
E que o fato de sabermos que a ciência tem sido objeto de legitimação e dominação do poder, não nos leve a proclamar uma anti-ciência, uma magia-negra ou qualquer outra coisa obscura que venha fazer do pensamento novamente um prisioneiro.