A simples disposição do movimento do corpo feminino e masculino está impregnada de valoração androcêntrica. As mulheres muitas vezes estão submetidas a confinamentos simbólicos de seus corpos e movimentos. A moda, por exemplo, saias curtas, bolsas, salto alto, acessórios, maquiagem… já as desencorajam à liberdade do movimento; os modos de se sentar, o movimento das mãos durante a corrida etc., são suficientes para desqualificar uma mulher, enquanto os homens são até mesmo considerados como atléticos quando se mostram mais à vontade e móveis. Ora, o que é o salto alto para a mulher senão o de símbolo sexual validado no campo social pelos e para os homens? Não é porque a mulher usa salto alto e demais acessórios que elas são submissas aos homens, o importante aqui é perceber que esses modos vão sendo constituídos (é um processo) para atender uma demanda masculina, no limite, são versões do princípio patriarcal de que a mulher foi feita para servir ao homem em versões mais sutis e suavizadas, características de como o poder atua em uma sociedade de controle.
E o que dizer sobre o próprio ato sexual? Atravessado por dominação masculina! O masculino é identificado como ativo e o feminino como passivo, em cima e embaixo, presente inclusive nas relações homossexuais. O dialeto usado pelos homens em relação às mulheres, no que se refere à conquista, é agressivo e evidencia o masculino sobre o feminino. E o feminino é vulgarmente qualificado quando se utiliza dos mesmos elementos.
As valorações e características que damos aos órgãos sexuais são inumeráveis e impregnados de dominação masculina. De modo geral, o positivo cabe aos homens, e o negativo às mulheres.
No caso dos homens, um dos exemplos, diz respeito à posição viril, o que se costuma dizer comumente como “seja homem”. Sem se perceberem, na maioria das vezes, os homens também são prisioneiros da dominação masculina. Os jogos de violência e poder são publicamente reconhecidos e validados socialmente para os homens, estes precisam provar sua honra, força, capacidade sexual e virilidade.
A virilidade (…) é uma noção eminentemente relacional, construída diante dos outros homens, para os outros homens e contra a feminilidade, por uma espécie de medo do feminino, e construída, primeiramente, dentro de si mesmo.” (BOURDIEU, A dominação masculina, p.79)